
Eu me sentia muito, muito mal por não conhecer o Cristo Redentor. Logo eu, patriota do dedinho do pé até o último folículo capilar! Era um absurdo nascer no Brasil, morar no Brasil, amar o Brasil e não conhecer o corcovado. Foi aí que, em uma visita ao Rio, eu consegui ir. E se era pra ir, tinha que ser no bondinho, lógico. Ainda na fila eu já sentia a vergonha alheia comichando. É, foi quando eu vi uma família esquisita tirar fotos ao lado de uma horrenda miniatura do Cristo. Além disso, e do bondinho querido demorar um monte, parecia que eu fazia parte de uma excursão da terceira idade, só que da terceira idade estrangeira.
Finalmente o bondinho chegou e em segundos estava lotado de idosos e umas poucas barangas (brasileiras) de cofrinho de fora e cabelo sujo. E começou a subir. Tchuc, tchuc, tchuc, beeem lentamente. De repente ele parou em frente ao quintal de uma casa com roupas penduradas, calcinhas e toalhas. Imagina a minha cara dentro de um maldito bondinho lento, cheio de turistas que pagaram caro pra ver o mesmo que eu estava vendo. Calcinhas e toalhas! E não para por aí. Ele voltou a subir. Tchuc, tchuc, tchuc. Passamos em frente a um amontoado de lixos de um lado e um muro medonho do outro. E lá vamos nós, tchuc, tchuc, tchuc, paramos outra vez e eis que um grupo de samba entra para nos alegrar. Era tudo o que eu queria. Os idosos riram e alguns ensaiaram uns passinhos. Até que uma baranga levantou para tirar foto da paisagem exuberante de muros e jacas. Enfiou a bunda com cofrinho aparecendo na cara de um senhor de nariz vermelho, cabelo branco e máquina enooorme a tiracolo. Aiiii, eu quase morri de vergonha! Fingi que não falava português porque não abri a boca para não me entregar, claro.
O bondinho parou e dessa vez já estávamos no Cristo. Só faltou subir uns andares de elevador e outro lance de escada rolante e, pronto, a decepção estava perfeita. Um Cristo sem graça, um monte de gente feia tirando fotos desesperadas, umas barraquinhas de salgados pra lá de estranhas com atendentes tristes e mal humorados. Tudo bem, não discuto que a vista é muito bonita, que o Rio é maravilhoso, mas chamar aquela coisa de sétima maravilha do mundo é o que há!